DESESPERO
(Chico Berg)
Aqui jaz um poeta
Se masturbando em plena via pública
Num desafio a todo tipo de censura.
Em vez da luz que há tanto procura
Embrenhou-se na secura e azedumes
Que a vida é uma faca de dois gumes
Entrecortada de perjura
Entrelaçada nesse fio que se diz costumes.
Aos olhos de espanto
De arquejos e soslaios
Ejacula o sacrilégio
Por entre desdém e desmaios
Na lisura de um riso paraplégico.
E num adunar de gozo e de loucura
O acalanto subjaz
Perdido, perfura
O canto
Não de paz, mas de agrura
Em que não se reata a vida sem erro nem rasura.
Aqui jaz um poeta
Que refaz de pasmo em orgasmo
A mais completa conjuntura.

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